DEPOIMENTOS

Confira alguns dos depoimentos sobre Paulo Leminski que estão no livro:

Curtos-circuitos férteis

Tem essas diferentes vertentes (da cultura e da contracultura; do repertório mais intelectualizado e da cultura de massas) que, no caso de muitas pessoas, se opõem, mas na minha formação se conjugaram e se atritaram de modo a criar curtos-circuitos muito férteis. Um poeta que viveu entre essas pontes foi o Paulo Leminski, que chegava à minha casa de casaco de couro para ouvir um disco de rock do The Clash, por exemplo, mas que tinha uma cultura clássica enorme. Era leitor de Homero, Dante, Camões, tinha um conhecimento da cultura oriental impressionante, dos poetas da antiguidade chinesa, dos haikais, da tradição do zen, além de ser faixa preta de judô. E ao mesmo tempo curtia rock e todo o panorama de possibilidades que a cultura pop introduziu. Creio que essa cultura clássica convivia sem traumas com a atitude comportamental irreverente, com a paixão pela contracultura e tudo que cercava o universo do rock and roll. Eu me sinto muito identificado com ele, nesse sentido.

Arnaldo Antunes

'Verdura' é um sonho!

Esse livro de poemas é uma maravilha, porque os poemas do Leminski são muito sintéticos, muito concisos, muito rápidos, muito inspirados. Ele é um sujeito gozado. É um personagem muito único, no panorama da curtição de literatura no Brasil. Eu acho um barato. Leminski tem um clima/ mistura de concretismo com beatnik. Que é muito legal. "Verdura" é um sonho. É genial. É um haikai da formação cultural brasileira. Deve ser instigante para os poetas do Brasil o aparecimento desses novos poetas todos. Leminski é um dos mais incríveis que apareceram.

Sinopse do livro "Caprichos e Relaxos" de Paulo Leminski (Ed. Brasiliense, 1983)

por Caetano Veloso

Vida longa ao Poeta!

Na época em que fizemos nossas parcerias, ainda não tinha a dimensão da obra de Paulo. Palavra era o combustível de Leminski 24 horas por dia.

Música era sua paixão, sua amante, sua meretriz. A música que Leminski curtia e fazia tinha a dimensão da poesia que ele fazia. "Fazia poesia e a maioria saía tal a poesia".

"Verdura" é uma canção que gosto muito. Sempre cantava nos bares em Curitiba esta canção "dura" que Paulo escreveu, gravada por Caetano Veloso.

Fui chamado para fazer a trilha musical da peça "Alles Plastik". Leminski era o adaptador da versão que Adriano Távora e Madalena Petlz fizeram para a peça homônima de Volker Ludwig, do Teatro Grips de Berlim.

Momentos únicos vividos em 1985 ao lado de Leminski, em sua casa no Pilarzinho. Pude conviver e ser parceiro deste poeta/músico/cantautor que foi.

Minha admiração pela obra de Leminski, mas, também, pela linda família que ele construiu com Alice Ruiz. As meninas Aurea e Estrela, junto com Alice, cuidaram para que a sua obra permanecesse. E, agora, nos apresentam este livro com muitas obras inéditas de Paulo e seus parceiros.

Vida longa ao Poeta!

Carlos Careqa

Einstein e um cachorro

Em 1977, quando eu fazia parte da banda de Gilberto Gil no show Refavela, conheci Paulo Leminski e Alice Ruiz, na ocasião da nossa passagem por Curitiba. Os dois me impressionaram muito com seus poemas e canções e, daquele momento em diante, não perdemos contato.

Paulo e Alice me mandavam letras, se hospedaram em minha casa em São Paulo, com Aurea e Estrela (que era um bebê, então) e me lembro de nós tocando na cozinha, inventando coisas, rindo, trocando ideias e contando causos.

Para o Paulo, Einstein e um cachorro de rua tinham a mesma importância e eu achava isso lindo. Enfim, encontrara uma pessoa brilhante e simples, com quem podia conversar e trocar impressões, sem ser julgada por minha pouca escolaridade ou ter aquele rótulo de que todo roqueiro é burro! Mesmo porque nunca me limitei a um só gênero musical.

Difícil encontrar palavras para descrever o quanto gostava e admirava esse doce revolucionário, que espalhava luz por onde passava.

Tivemos algumas parcerias que, infelizmente, não registramos antes dele partir. Ainda guardo comigo cartas, telegramas, rascunhos de letras em folhas de caderno e fitas cassete...

Agradeço ao universo por ter tido a alegria e o privilégio de conviver com ele e sua família, da qual, enternecida, ainda faço parte.

Paulo, a gente se vê! Atravesse a cidade naquele táxi! Tem café, violão e um caderno pra gente brincar!

Lucinha Turnbull